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Mais Gestão

A entrevista abaixo foi concedida pelo superintendente da CMB, José Luiz Spigolon, à Revista Fornecedores Hospitalares – edição 155. Nela, Spigolon fala sobre o processo de estruturação e desenvolvimento do Programa de Melhoria da Gestão em Hospitais Filantrópicos – Mais Gestão. Acompanhe o texto na íntegra.

Fornecedores Hospitalares – Por que a CMB decidiu organizar este projeto? Em que está baseado?
José Luiz Spigolon – O Mais Gestão surgiu de um projeto piloto adotado no Rio Grande do Sul e considerou a necessidade de resolução de um problema comum a vários hospitais ligados ao Sistema Único de Saúde: a falta de recursos financeiros. A Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB) foi estimulada pelo empresário Jorge Gerdau a adotar esse modelo em parceria com o Fórum Nacional dos Programas Estaduais e Setoriais de Qualidade, Produtividade e Competitividade (Fórum QPC). Em agosto de 2007 foi assinado um Acordo de Cooperação com o intuito de viabilizá-lo de uma maneira rápida, eficaz e que pudesse ser utilizado a longo prazo pelos hospitais.FH –Os hospitais se voluntariam para o programa ou a seleção é feita pela própria CMB? Quais os critérios?
JLS – A seleção dos hospitais participantes foi feita pela CMB em conjunto com as suas federações estaduais a partir de critérios transparentes. Todos são sem fins lucrativos, filiados à Federação do seu estado ou à CMB, apresentam sinais de crise e/ou capacidade de multiplicar o treinamento recebido para outros hospitais similares da região, além de a alta direção oferecer garantias de continuidade na execução do programa. 258 instituições hospitalares participam do Programa nesta primeira fase. A intenção é que consigamos aplicá-lo nas 2.100 instituições filiadas à CMB.FH –Qual é a participação do Ministério da Saúde?
JLS – A iniciativa tem recebido muitos elogios públicos do Ministério da Saúde, que a apoiou desde o momento em o Programa lhe foi apresentado. No lançamento nacional se fez representar pela Secretária Executiva, Márcia Bassit, que, em seu pronunciamento destacou a oportunidade da implementação dessa ação, num cenário em que as santas casas, os hospitais sem fins lucrativos e filantrópicos — parceiros do Sistema Único de Saúde – SUS — estão passando por dificuldades financeiras decorrentes da limitada capacidade dos governos federal, estaduais e municipais em conjuntamente financiarem o sistema público de saúde. O ministro José Gomes Temporão está estudando uma forma de o ministério contribuir financeiramente com a próxima fase do Mais Gestão. 

FH –De que forma empresas como Petrobras e Gerdau apóiam o projeto? Há troca de experiências, para trazer a realidade da gestão corporativa para as Santas Casas, ou o apoio é apenas financeiro?
JLS – A Petrobrás e a Gerdau apóiam financeiramente o projeto, além de ser Jorge Gerdau um grande entusiasta dele e ter fundado o Movimento Brasil Competitivo (MBC), que tem por missão contribuir para a melhoria da competitividade das organizações privadas e da qualidade e produtividade das organizações públicas, de maneira sustentável, elevando a qualidade de vida da população brasileira. Petrobrás e Gerdau, assim como outras grandes corporações, estão no MBC, sendo natural que haja troca de experiências, levando a realidade da gestão corporativa para as Santas Casas e hospitais sem fins lucrativos, entidades estas típicas do Terceiro Setor.

FH –Mesmo enfrentando a falta de recursos, as Santas Casas conseguirão implementar novos modelos de gestão e melhorar a assistência?
JLS – O Programa foi idealizado exatamente para ser aplicado nesse ambiente de poucos recursos. É bastante ousado, utiliza ferramentas simples e modernas que possibilitam uma rápida redução de desperdícios, o aumento na produtividade e qualidade pela melhoria dos processos, além da capacitação, engajamento e motivação da equipe profissional, resultando na melhora significativa do atendimento disponibilizado à população. Tudo isso baseado numa mudança pioneira no gerenciamento desses hospitais. Os resultados positivos já estão sendo percebidos.

FH-Qual é o impacto esperado no dia-a-dia e na parte operacional das instituições filantrópicas?
JLS – Engajamento, motivação e capacitação das equipes, revisão e melhoria de todos os seus processos, rápida redução de desperdícios, eliminação dos “gargalos”, aumento na produtividade e da qualidade e melhora significativa do atendimento à população.

FH-Quais foram os resultados percebidos nos primeiros hospitais beneficiados com o projeto?
JLS – Como dissemos no início, o Programa partiu da experiência executada pela nossa Federação no Estado do Rio Grande do Sul, em 2007, onde 50 dos 239 hospitais a ela filiados participaram do projeto-piloto. Esse piloto teve por base os resultados obtidos pela Santa Casa de Porto Alegre que ganhou o Prêmio Nacional da Qualidade de 2002, após um grupo de técnicos ter elaborado um programa adequado à realidade dos Hospitais Filantrópicos. O nível de satisfação dos participantes do projeto-piloto foi de mais de noventa por cento e os ganhos para os hospitais altamente expressivos, considerando as várias etapas da execução do Programa.

FH –Como foi a definição das metodologias de qualidade? Elas devem ter impacto maior na estratégia dos hospitais ou no trabalho e motivação dos funcionários?
JLS – Começo respondendo pelo final dessa pergunta: a motivação dos funcionários tem sido o grande mote para o alcance dos bons resultados, isto porque a metodologia adotada é bastante simples e objetiva, proporcionando rápida assimilação e resultados. A definição das metodologias de qualidade levou em conta os conceitos do modelo japonês Kaizen, com foco numa gerência para mudança gradual e contínua. Os elementos chaves de modelo são: qualidade esforço, participação de todos os empregados, voluntariedade, mudança e comunicação.

FH –Há planos para que, após a finalização do projeto, estas instituições busquem certificações de qualidade, como CQH e ONA?
JLS – Sim, a Confederação das Santas Casas, como uma das instituições fundadoras da ONA, já pensa numa forma de possibilitar-lhes a certificação.

FH –Quais são as principais diferenças na gestão de instituições filantrópicas, privadas e públicas, além da questão dos recursos?
JLS – As instituições filantrópicas têm por natureza a ausência do objetivo do lucro ou da exploração comercial, contrariamente ao que ocorre com as organizações privadas lucrativas. Têm por missão ações essencialmente sociais, voltadas para a população de baixa renda, colocando-se como parceiras dos governos para a execução de políticas públicas. Seus diretores são voluntários e não recebem remuneração ou outros benefícios pelos cargos que nelas desempenham. Indiscutivelmente tais características as diferenciam na forma de gerir suas atividades, principalmente em relação às privadas lucrativas, mas sem deixar de adotar as melhores práticas de gestão disponíveis para alcance dos seus objetivos. Em relação às instituições públicas, a grande diferença está em não sofrerem os efeitos das “amarras” impostas pela legislação pública, em especial no que se refere às licitações e funcionalismo. 

FH –Em sua opinião, quais são os pontos mais críticos na gestão de hospitais filantrópicos?
JLS – De um modo geral a predominância do baixo índice de profissionalização da gestão, o que, segundo muitos, decorre da incapacidade de contratação de bons profissionais, quer pela localização da maioria desses hospitais em municípios de até 30 mil habitantes, quer pela precária remuneração dos serviços que prestam ao SUS. Estudos feitos pela Confederação atestam que atualmente, em média, para cada R$ 100,00 gastos com os atendimentos o SUS reembolsa apenas R$ 60,00. Isto também implica na baixa capacitação de recursos humanos que, por sua vez, leva a desperdícios pelo desconhecimento de práticas e alternativas menos custosas. Afora isso, é preciso destacar que entre os cerca de 2.100 estabelecimentos filantrópicos do segmento saúde há inúmeros exemplos de práticas de gestão muito avançada, chegando a ser modelo para qualquer tipo de hospital de pequeno, médio ou grande porte. 

FH –É possível garantir uma boa gestão de qualidade e oferecer atendimento adequado à população, enfrentando problemas de fluxo de caixa comuns às Santas Casas?
JLS – É muito difícil, especialmente porque não há regras claras, o que torna impossível um planejamento adequado das ações. Ainda hoje mais da metade das instituições que prestam serviços ao SUS não dispõem de um instrumento jurídico (contrato ou convênio) regulando essa prestação de serviços e delimitando as obrigações e responsabilidades das partes envolvidas. Os gestores do SUS têm verdadeira ojeriza em assinar tal instrumento e se comprometer, por exemplo, com datas para o pagamento dos serviços que lhe são prestados. Todo o relacionamento é puramente tácito, nada formal. E assim, para garantir uma boa gestão de qualidade e oferecer atendimento adequado à população, são exigidos esforços, quase sempre, superiores aos que os dirigentes de santas casas e de hospitais filantrópicos podem dar. O endividamento junto a fornecedores e bancos são freqüentes e crescentes, sempre sob o aval particular desses dirigentes.

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